sexta-feira, 27 de fevereiro de 2009

Notas Musicais

Que notas compõem a música que te traduz?


Vamos fazer uma brincadeira: Se usarmos as três estruturas de base que modelam nosso mapa astral - Sol, Lua e ascendente – e os verbos que designam os signos nos quais estes pontos estão posicionados, podemos ter uma vaga idéia do som que transmitimos ao mundo. O Sol é a essência, o ascendente é a forma como o mundo nos vê, a máscara social que usamos, e a Lua responde pela nossa parte emocional.


É claro que todo o mapa é importante, mas como estas são as características que se imprimem mais fortemente em nós e que portanto são mais óbvias, através desta simples combinação de palavras podemos ter uma idéia do tipo de música que “tocamos” no mundo. Vamos à elas:


Áries
Verbo: Querer - Eu quero
Palavra-chave: Atividade


Touro
Verbo: Ter - Eu tenho
Palavra-chave: Estabilidade


Gêmeos
Verbo: Pensar - Eu penso
Palavra-chave: Versatilidade


Câncer
Verbo: Sentir – Eu sinto
Palavra-chave: Devoção


Leão
Verbo: Ser – Eu sou
Palavra-chave: Magnetismo


Virgem
Verbo: Analisar – Eu analiso
Palavra-chave: Praticidade


Libra
Verbo: Equilibrar – Eu equilibro
Palavra-chave: Harmonia


Escorpião
Verbo: Controlar – Eu controlo
Palavra-chave: Intensidade


Sagitário
Verbo: Compreender – Eu compreendo
Palavra-chave: Visualização


Capricórnio
Verbo: Usar – Eu uso
Palavra-chave: Ambição


Aquário
Verbo: Saber – Eu sei.
Palavra-chave: Imaginação

Peixes
Verbo: Crer – Eu creio
Palavra-chave: Compreensão.


É só combinar os verbos das três estruturas na seguinte ordem: Sol – Asc – Lua.
Eu, por exemplo, com Sol em Peixes, ascendente em Leão e Lua em Sagitário sou uma combinação dos verbos Crer, Ser e Compreender. Eu creio, eu sou, eu compreendo. Ou usando as palavras-chave: Compreensão, Magnetismo e Visualização.

A grande graça que a Astrologia trouxe para mim não mora apenas no auto-conhecimento, mas também no fato de que ela me ajuda a compreender os outros, a matéria-prima com a qual cada um é formado. Isso me auxilia a desenvolver a tolerância que tantas vezes me falta, e a exercitar a verdadeira compaixão, não aquela que vem da pena, mas a que nasce da compreensão.
(Aliás não deveria haver em nós, à exemplo da Natureza, espaço nem para a maldade, nem para a piedade.)

As vezes mapas parecidos chegam às minhas mãos, e consigo ver em pessoas cujas vidas são totalmente diferentes, semelhanças gritantes em termos de personalidade, o que ao menos para mim faz com que fique evidente que não é apenas a experiência o que molda nosso caráter. Já nascemos com uma pré-disposição a reagirmos da maneira X ou Y à experiência direta.

Em última instância não somos livres pois estamos presos à estes padrões de resposta, a única coisa que nos resta é percebê-los e tentar direcioná-los criativamente para outros focos, quando estes forem diagnosticados como nocivos à nós mesmos. Algo que me desagrada não vai simplesmente deixar de me desagradar por conta de já estar ciente de estar obedecendo a um padrão pessoal, o que posso fazer é transformar a sensação em resposta produtiva ao invés de (auto)destrutiva. E curiosamente até o que eu achava que havia sido impresso em mim por conta do acaso das circunstâncias, dos eventos acidentais da minha vida, está descrito no meu mapa...

Aliás...

Os próprios eventos também estão descritos no meu mapa! Lembrei de coisas importantes que aconteceram na minha vida, e dentre estas aquelas das quais eu recordava a data precisa. Analisei no meu mapa os trânsitos que estavam ocorrendo à estas épocas e como os planetas do momento aspectavam meu mapa natal e encontrei referências clarascruzando as informações entre o que aconteceu, o céu do dia e sua correlação com minha carta pessoal.

Vou transcrever uma passagem interessante que consta em um livro da terapeuta junguiana e astróloga Liz Greene, que ilustra bem a complexidade do assunto:

“No Ano de Nosso Senhor de 1555, Sua Mui Cristã Majestade o rei Henri II da França, então com trinta e sete anos, foi advertido por um astrólogo para precaver-se contra a morte num combate individual num espaço cercado, devido a um ferimento na cabeça, no verão de seu quadragésimo segundo ano de vida. O astrólogo em questão era um dos mais conhecidos sábios da época, um italiano chamado Luca Gaurica, latinizado para Gauricus, conforme a moda da época. Signor Gauricus publicou uma grande obra em três volumes sobre os princípios da astrologia. O nome é Opera Omnia e ainda pode ser lida na Biblioteca Britânica por quem conseguir entender o seu latim; infelizmente, nunca foi traduzida. Opera Omnia explica não apenas o levantamento e a interpretação de horóscopos natais, como também a astrologia judicial (horária) e política (mundial). Entre os horóscopos apresentados como exemplo está o do infeliz rei Henri II.

Gauricus tinha previsto corretamente crises e mortes nas vidas de vários monarcas e nobres, inclusive a derrota do rei François I na batalha de Pavia e a morte do duque de Bourbon nas muralhas de Roma durante o saque de 1527. Portanto, sua advertência ao rei da França foi tratada com algum respeito. Isso nos revela várias coisas sobre a astrologia da época. Tirando os seguidores de Ficino, ela era mais preditiva do que caracteriológica, era respeitada em todas as cortes da Europa apesar do repúdio nominal da Igreja (vários príncipes notáveis da Igreja eram também astrólogos), e jogava a responsabilidade pelos sucessos e catástrofes do homem diretamente no grande regaço de Moira.

Gauricus não se metia com a magia "natural" de Ficino. Se ele profetizasse que o rei Henri ia morrer, ele morreria, mesmo que a previsão fosse redigida, de acordo com a etiqueta, como uma "advertência". O próprio rei não pensaria em questioná-la, e sua resposta foi que para ele tanto fazia morrer uma morte honrada num combate aberto como morrer de qualquer outro jeito, mesmo ignóbil. (O rei era do signo de Áries, o que pode ter algo a ver com sua resposta corajosa, mas um pouco temerária.) Outro astrólogo contemporâneo a Gauricus fez uma "advertência" sobre a morte do rei Henri. Era Michel de Notredame, que passou à história como Nostradamus, e que inseriu nas Centúrias, a monumental obra de profecias sobre o destino do mundo, publicada em 1555, os seguinte versos:


Le Lyon jeune le vieux surmontera,

En champ bellique par singulier duelle,

Dans cage d'or les yeux lui crevera,

Deux classes une puis mourir mort cruelle.


O que significa, mais ou menos: o jovem leão vai vencer o velho em combate individual durante um torneio. Através da gaiola dourada (o rei era conhecido pelo elmo dourado) seus olhos serão trespassados. Duas feridas tornam-se uma, e sobrevém a morte cruel.

Essa profecia, embora não mencione o nome do rei, apareceu no mesmo ano da previsão de Gauricus. O rei Henri foi imediatamente identificado, não só por causa do elmo dourado que usava nas justas, mas também por causa do leão dourado que formava a cimeira. Essa segunda advertência astrológica também foi levada totalmente a sério, e começaram a ser feitos preparativos para o próximo monarca, embora com discrição e sem muito rebuliço. Os astrólogos e os videntes, por graça de Deus ou do Diabo (não se sabia muito bem qual dos dois), privavam dos segredos do destino, e podiam antecipar o que estava escrito.

Nem é preciso dizer que o rei Henri morreu, no verão do seu quadragésimo segundo ano, num torneio, durante as comemorações do casamento de sua filha com o rei da Espanha. A lança de seu oponente acidentalmente partiu-se durante o combate, e o rei acidentalmente tinha esquecido de prender o visor de seu elmo. As lascas da lança entraram pelo visor do elmo, trespassaram os dois olhos e introduziram-se no cérebro. Sua morte foi particularmente cruel e dolorosa, depois de uma prolongada agonia de dez dias. Todo o mundo lamentou, louvou a precisão de Gauricus e Nostradamus, e se preparou para o novo reinado. É difícil para nós, hoje em dia, entender a aceitação passiva da predição e do destino que permeava a astrologia do século XVI. Mas é igualmente difícil para o astrólogo moderno, ávido por demonstrar ao cliente que a interpretação do horóscopo natal trata de "potenciais", justificar a misteriosa precisão dessa e de outras previsões semelhantes da Renascença. Para nós, no século XX, é muito importante examinar o horóscopo psicologicamente, pois vivemos numa era psicológica e a nossa percepção de nós mesmos é bem capaz de ser a única esperança de salvação; entretanto, parece que era realmente possível, há apenas quatrocentos anos atrás, predizer com absoluta precisão a duração da vida de um homem e o tipo de sua morte.”


O texto fala por si e acho desnecessário acrescentar algo mais a ele. Minha crença pessoal é a de que a melhor forma de ajudar o indivíduo, e dessa forma por tabela o mundo, ainda que em escala bem pequena, é torná-lo consciente de quem é. Talvez se o Rei Henri II soubesse de antemão a respeito dos padrões que costumava obedecer e estivesse atento a eles, tivesse sido capaz de alterar seu destino cruel.


Ou não.

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