terça-feira, 18 de março de 2008

Mito de Áries: Jasão e o Velocino de Ouro


Continuando com a série de mitos, exponho agora o mito de Áries (já que estamos no mês de aniversário dos carneirinhos), primeiro signo do zodíaco, gerador do impulso inicial sendo justamente a impulsividade uma das características mais marcantes do signo. Governado por Marte (Ares), Deus da Guerra, o mito do Carneiro é tão bélico quanto seu regente.

Os mitos referentes à Áries sempre foram associados à idéia do herói, da aventura e da conquista da própria identidade através de empreendimentos arriscados.

Áries, e a conquista de sua identidade.

Jasão era filho de Esão e Polímede mas muito cedo foi banido do lar por seu pai, para ser então iniciado pelas mãos do centauro Quíron (núcleo do mito sagitariano). O reino de Esão havia sido usurpado por Pélias, seu irmão e tio de Jasão, configurando assim a trama de herança negada ou direito de nascença usurpado extremamente comum nos mitos do Herói: ele nasce Herói mas não goza desse status desde o nascimento; ao contrário, deve conquistá-lo através da conquista de sua identidade e da superação de arriscadas empreitadas.

Como Jasão, ele terá de enfrentar as artimanhas de um poderoso rei, o que ilustra a necessidade do ariano de se defrontar com a imagem arquetípica do "Pai Terrível".

A figura do pai sempre representa a Lei, a Ordem, a Estrutura, os Valores Civilizadores que devem ser mantidos a qualquer preço, e cabe ao Herói desafiar esse poder, que ao mesmo tempo o castra mas o incita: será através da quebra das Leis que ele instalará um novo regime.

Assim que atingiu a idade necessária ao enfrentamento de sua missão (conquista da própria identidade/direito ao trono), Jasão retorna do monte Pélion, onde esteve sendo iniciado; no caminho, perde uma sandália ao auxiliar uma mulher velha a atravessar um rio (segundo alguns, a própria deusa Hera, esposa de Zeus e patrona do casamento). Pélias, que havia sido avisado por um oráculo sobre a vinda de um homem com uma sandália apenas, o qual ameaçaria seu reinado, ao identificar Jasão, desafiou-o a conquistar o Velocino de Ouro pois só assim ele poderia reassumir sua identidade e receber o trono, que lhe pertencia por direito de nascença. Jasão, em resposta, reuniu uma tripulação para a nave Argo (por isso "argonautas") e foi à Cólquida resgatar o Velo de Ouro.

O Velocino de Ouro era um tesouro inigualável. A preciosidade fora retirada de um carneiro dourado, que corria, nadava e voava melhor do que ninguém, oferecido por Mercúrio a Néfele, para que salvasse seu casal de filhos da ira da nova mulher do seu marido. Néfele coloca seus filhos Frixo e Hele no dorso do animal, que voa e desaparece com as crianças. Hele tem uma vertigem e tomba no mar, mas seu irmão sobrevive e ao chegar a salvo em Cólquida, sacrifica o animal a Júpiter e oferece sua pele ao soberano Eetes que o abriga. O tesouro foi então guardado no jardim de Marte (Ares) e vigiado por um dragão que nunca fechava os olhos.

Antes de continuar com o mito, vejamos em detalhes alguns pontos. O impulso de lançar-se em aventuras arriscadas para provar sua "masculinidade" é característica nuclear do ariano, seja ele homem ou mulher, pois o dilema do enfrentamento do "Pai Terrível" (em geral voltado à conquista todo o tempo) não confronta apenas homens.

Ao mesmo tempo, o resgate de valores que se encontram em profundas cavernas costuma representar a conquista dos próprios valores e isso também não é dilema próprio apenas de um determinado sexo.


No ariano, o que se verifica é a manifestação audaz e impetuosa da força fálica humana a todo tempo, especialmente se confrontado ou desafiando, dado o rito externo de primeira infância que se abate sobre a sua estrutura mítica inconsciente.

Uma análise mais detalhada da vida do homem ariano costuma mostrar a infância vivida sob a tirania de um pai competitivo, que emasculou dessa forma seu filho - quer negando-lhe o que dele seria por herança, quer sendo excessivamente crítico, quer ainda incitando-o constante e continuamente a "conquistar", como única maneira de provar sua competência "masculina".

Mesmo no caso da mulher ariana a história parece não ser diferente: o pai também é percebido como dominante e impositivo, o que a leva futuramente a "escolher" companheiros que reproduzam o papel do "Pai Terrível" e que a impeçam de se desenvolver e adquirir independência - a não ser através de duras penas e muita luta.

Esse padrão não é necessariamente patológico, mas sim, o rito que instala um padrão mítico profundo na vida mais superficial: esse "Pai Terrível" é ao mesmo tempo o obstáculo e o meio de crescimento, dependendo da resposta da pessoa ao desafio.

Voltemos ao mito: Mesmo sabendo da dificuldade de obter tamanha preciosidade, Jasão aceita o desafio e reúne um grupo de 50 homens, os mais corajosos que pôde encontrar, entre eles vários heróis e semideuses como Hércules, o músico Orfeu, os irmãos Castor e Pólux e o bravo Teseu. Para transportar o grupo, Jasão encomenda a maior e melhor embarcação que já havia sido construída na Grécia a um artesão de renome: Argos, cujo nome foi dado a nau. Estava assim constituído o grupo dos Argonautas, que parte em direção a Cólquida para conquistar o Velocino de Ouro e restituir o trono a Jasão.

Depois de diversas dificuldades no percurso, os Argonautas chegam à Cólquida e Jasão reclama a posse do Velocino de Ouro a Eetes, que concordou em ceder o objeto se o herói cumprisse duas provas de coragem: arar a terra com dois touros de narinas fumegantes e patas de bronze e semear os dentes do dragão do Cadmo, dos quais nasceriam uma leva de gigantes, que o herói deveria vencer, tudo isso num só dia.

A missão teria sido impossível de ser cumprida por qualquer mortal se não houvesse a interferência de Medéia, filha de Eetes, que se apaixonara perdidamente por Jasão. Convencida pelas promessas de eterno amor do jovem grego, Medéia resolve trair o pai e a pátria para ajudar o argonauta a vencer seu desafio. Ela usa seus poderes mágicos e torna o corpo do amado imune ao fogo e ao ferro, protegendo-o contra as chamas e as patas dos touros. Ainda agindo de acordo com as indicações de Medéia, Jasão observa os gigantes nascerem da terra e joga entre eles uma pedra, fazendo com que exterminassem uns aos outros.

Eetes, surpreso com o sucesso de Jasão, não cumpre a promessa de ceder o Velocino de Ouro e pretende matar os argonautas e destruir a Argo. Medéia novamente interfere, previne o amado e o ajuda a roubar o tesouro fazendo com que o dragão vigilante adormecesse sob o seu encanto e se tornasse presa fácil para a lança de Jasão.

De posse do Tosão de Ouro, os Argonautas e Medéia fogem na Argo e levam Absirto, outro filho de Eetes como refém. O rei, ao perceber que havia sido enganado, envia seus soldados ao encalço dos fugitivos para recuperar o Velocino e trazer de volta a filha traidora. Medéia, disposta a tudo pelo amado, usa uma artimanha cruel para retardar os perseguidores: mata o próprio irmão, esquarteja seu corpo e joga seus pedaços ao mar. Os guerreiros param então a perseguição para recuperar os restos mortais do filho do rei e sepultá-lo, deixando os Argonautas escaparem rumo a Iolco.


Jasão retorna a Iolco e mais uma vez se defronta com o tio Pélias, que se nega a entregar-lhe o trono - a despeito do sucesso! Medeia, irritada com o comportamento de Pélias (induziu Esão ao suicídio, levou Jasão a arriscar-se e ainda por cima lhe negou o prêmio da vitória, que seria o próprio trono e a identidade real), trama o assassinato deste pelas próprias filhas.

Jasão entrega o trono a Acasto, um dos companheiros do Argo, e se exila em Corinto. Lá, entretanto, aceita a oferta do rei Creonte e sem hesitação casa-se com Creusa (ou Glauce).

Medeia, repudiada e alucinada de paixão repelida, mata Creusa e Creonte, sacrifica suas próprias filhas no altar de Hera e deixa Jasão sob uma maldição: morrer de forma violenta.

A profecia se cumpre quando Jasão, ao inspecionar obras de manutenção em sua nave Argo, morre sob o peso de uma viga de madeira que despenca de um mastro e esmaga sua cabeça.

Não que a desgraça seja constante ao fim da vida de todo ariano, mas vários dos acontecimentos que povoam a vida de homens e mulheres nascidos neste signo estão ali dispostos: O auxílio feminino (da Anima, nos homens, ou da própria mãe, no caso das mulheres), que cria as condições necessárias para escapar à destruição no confronto com o "Pai Terrível", e resgatar a própria identidade; as fortes paixões, características dessa Anima "feiticeira" que luta "masculinamente", dominam o cenário da vida inteira; a aspiração por conquistar o mundo para governá-lo, mesmo que abrindo mão da pureza simbolizada pelo Velo de Ouro, se necessário ferindo ou magoando quem mais o ajudou em sua conquista (do que muitas vezes se arrepende depois); e a freqüente triangulação amorosa, especialmente com parceiras ou parceiros que esperam ser resgatados do seu próprio "Pai Terrível".

Nem sempre tem de ser uma pessoa: no mínimo, o ariano está com freqüência envolvido em resgatar uma idéia ou conceito das garras patriarcais sufocadoras. Entretanto, é muito comum também que o ariano, assim como Jasão viu Medéia, veja durante a infância a mãe como uma figura apenas serviçal, o que compromete sua figura feminina interna e sua própria auto imagem (se menina) ou a de futuras companheiras e a da própria Anima (se menino). Como conseqüência, a imagem masculina interna se agiganta, fornecendo precioso combustível fálico masculinizado para os constantes embates arianos contra quaisquer figuras masculinas.

O ariano, homem ou mulher, deve compreender que sua inesgotável energia fálica e poder de liderança devem ser postas a serviço de um ideal de justiça por causas nobres, canalizando sua agressividade e aproveitando sua imensa capacidade intuitiva e poder de iniciativa, abandonando a belicosidade aparentemente gratuita, tão característica do signo. Caso contrário, continua a busca do "Velo de Ouro" em cada oportunidade que se manifesta, preso pela compulsão em arrancar sua própria identidade das mãos do "Pai Terrível" que teima em negá-la - seja o próprio pai, o marido, uma figura de autoridade, o rival ou parceiro em cada conquista amorosa.

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Canção para os Arianos

Caçador de Mim

Milton Nascimento

Composição: Luís Carlos Sá e Sérgio Magrão

Por tanto amor
Por tanta emoção
A vida me fez assim
Doce ou atroz
Manso ou feroz
Eu caçador de mim

Preso a canções
Entregue a paixões
Que nunca tiveram fim
Vou me encontrar
Longe do meu lugar
Eu, caçador de mim

Nada a temer senão o correr da luta
Nada a fazer senão esquecer o medo
Abrir o peito a força, numa procura
Fugir às armadilhas da mata escura

Longe se vai
Sonhando demais
Mas onde se chega assim
Vou descobrir
O que me faz sentir
Eu, caçador de mim

2 comentários:

Carlinhos Lima disse...

seu blog é muito bonito e vc tambem, parabens tens realmente cra de psciana.

Anônimo disse...

Nossa, fiquei realmente impressionado com a musica e toda a história... Eu sou Ariano e me identifiquei com tudo escrito aqui.
E pra ajudar, sou ascendete em Cancer, então deves saber como sou.

Passo aqui outras vezes o/

au revoir